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A química dos Adoçantes
A química ajuda a entender e estudar
a composição dos alimentos em geral e, em particular, a dos
adoçantes dietéticos, para avaliar sua qualidade e estabelecer
um controle nutricional e toxicológico. Assim, consegue-se
atender às exigências de normas e legislações específicas,
preservando a saúde dos consumidores.
Os adoçantes dietéticos de mesa são consumidos não somente por
obesos ou diabéticos, mas também por um número crescente de
pessoas preocupadas em manter a forma física e restringir o
nível calórico de sua alimentação. Contudo, seu principal
emprego é como coadjuvantes no controle do Diabetes Mellitus,
uma vez que a substituição da sacarose pelos adoçantes
dietéticos facilita a terapia nutricional instituída ao
paciente.
De acordo com a legislação brasileira em vigor – Portaria da
Secretaria de Vigilância Sanitária (SVS) nº29 de 13/01/98 –,
adoçantes de mesa são os produtos especificamente formulados
para conferir o sabor doce aos alimentos e bebidas.
O Codex Alimentarius, um forum internacional para normatização
de alimentos, classificou os substitutos da sacarose em dois
grupos:
- Edulcorantes
intensos ou não-nutritivos:
fornecem somente doçura acentuada, não desempenham nenhuma outra
função tecnológica no produto final. São pouco calóricos e
utilizados em quantidades muito pequenas.
- Agentes de corpo:
fornecem energia e textura aos adoçantes, geralmente contêm o
mesmo valor calórico da sacarose e são utilizados em quantidades
que facilitam medição e o consumo do adoçante dietético.
Os adoçantes podem conter e ser
formulados à base de edulcorantes naturais e/ou artificiais e
seus respectivos veículos permitidos na legislação, tais como:
água, álcool etílico, amido, amido modificado, dextrinas,
dextrose, fruto-oligossacarídeos, frutose, glicerina ou
glicerol, isomalte, lactose, maltitol e seu xarope,
maltodextrina, manitol, polidextrose, polietileno glicol,
propileno glicol, sacarose, sorbitol em pó ou solução.
Os edulcorantes são substâncias artificiais ou naturais
geralmente centenas de vezes mais doces do que o açúcar de cana.
Conferem o sabor doce no adoçante e não são calóricos, exceção
feita ao aspartame, embora seu poder de adoçamento torne suas
calorias desprezíveis. Os edulcorantes aprovados no Brasil para
uso em adoçantes dietéticos são: sacarina, ciclamato, aspartame,
esteviosídeo, acessulfame-K e sucralose. Na tabela 1, são
mostrados os principais edulcorantes que compõem os adoçantes
dietéticos pesquisados, suas características, a dose diária
aceitável (IDA), o poder de adoçamento, a metabolização, a
sensibilidade ao calor e ao meio ácido, as calorias por unidade
e o ano de sua descoberta.
Principais edulcorantes
não-nutritivos |
Sacarina |
Ciclamato |
Apartame |
Steviosídeo |
Acessulfamek |
Sucralose |
Característica |
artificial |
artificial |
artificial |
natural |
artificial |
artificial |
IDA* mg/kg |
5,0 |
11,0 |
40,0 |
5,5 |
15,0 |
15,0 |
Poder adoçante |
500 vezes |
40 vezes |
200 vezes |
300 vezes |
200 vezes |
600 vezes |
Metabolização |
não |
não |
sim |
não |
não |
não |
sensibilidade ao calor |
não |
não |
sim |
não |
não |
não |
pH |
estável |
estável |
estável |
estável |
estável |
estável |
Ano de descoberta |
1879 |
1939 |
1965 |
1905 |
1960 |
1976 |
Calorias (unidade) |
0 |
0 |
4 |
0 |
0 |
0 |
Principais produtores |
Monsanto |
Abbot |
Searle Nutrasweet |
Vários |
Pfizer |
Tate&Lyle |
* IDA – Ingestão Diária Aceitável em miligramas de edulcorante
por quilograma de massa corpórea.
A sacarina (C7H4OSO2NH) foi descoberta em 1878
por Ira Remesen e C. Fahiberg na Universidade John Hopkins - NY.
Foi aprovada no Brasil como edulcorante em 1965. Apresenta sabor
residual amargo em altas concentrações. É o único edulcorante
estável sob aquecimento e em meio ácido. Em humanos, a sacarina
é rapidamente absorvida e excretada na urina. A segurança de seu
uso é investigada há 50 anos e seu uso foi permitido em 90
países.
O ciclamato (C6H13NO3S) foi descoberto em 1937,
por Michael Sveda. Sua patente tornou-se propriedade dos
laboratórios Abbot, que o introduziram no mercado americano
depois de aprovado como edulcorante pelo FDA(o Departamento de
Alimentos e Medicamntos dos Estados Unidos), em 1949, e no
Brasil, em 1965. É estável durante prolongados períodos de
aquecimento.
O aspartame (C14H18N2O5) foi descoberto
acidentalmente em 1965 por Jim Schalatter nos laboratórios da
Searle, numa época em que pesavam sobre a sacarina as suspeitas
de possíveis efeitos cancerígenos e o ciclamato estava proibido
nos EUA. No Brasil, o aspartame foi liberado em 1981.
O acessulfame-K (C4H4N2O4SK) foi descoberto, em
1967, na Alemanha, por Karl Clauss e Henry Jensen,
acidentalmente, quando trabalhavam no desenvolvimento de novos
produtos e encontraram um composto de sabor doce. Apresenta
estrutura semelhante à da sacarina.
A sucralose (C12H22O12Cl2) foi descoberta em
1976 por pesquisadores da Tate & Lyle Specialty Sweeteners, na
Inglaterra. É obtida pela cloração seletiva dos grupos
hidroxílicos das posições 4 e 6 da sacarose. Seu dulçor é
dependente de pH e temperatura, apresentando boa estabilidade.
Figura 1:
Fórmulas químicas dos principais edulcorantes. Nas figuras de
cima, da esquerda para a direita, aspartame, ciclamato e
sacarina; nas de baixo, acessulfame e sucralose.
Em estudo realizado para a determinação de macro,
micronutrientes e contaminantes em 26 amostras de adoçantes
(líquido e em pó), nenhuma delas excedeu o valor recomendado
para o somatório dos contaminantes inorgânicos (ASPARTAME <10 mg
g-1 e SACARINA < 20 mg g-1). O consumo de adoçante dietético em
pó pode interferir na digestão dos nutrientes ferro (14,2% da
IDR) e magnésio (17,8% IDR). Já o consumo de adoçantes
dietéticos líquidos não interfere significativamente na ingestão
de nenhum dos nutrientes analisados. O valor do resíduo de
cinzas nas amostras de adoçantes dietéticos sólidos analisadas
está adequado à legislação, ou seja, é menor do que 4%.
Então, frente a tantas opções, como podemos responder a uma
pergunta tão simples: açúcar ou adoçante?
Os nutrientes chegam ao organismo através da alimentação. Assim,
a utilização dos adoçantes dietéticos soluciona algumas
questões, como a diminuição da digestão calórica de pessoas que
necessitam do controle da glicemia. Porém intuitivamente, ao
preparar um alimento adicionando um adoçante dietético ou
substituindo totalmente o açúcar por este, a dona-de-casa
percebe que algumas das propriedades do alimento serão
modificadas (textura, umidade, sabor, etc). Dessa forma, como
garantia para o consumidor, o governo deve manter departamentos
ou agências relacionadas à segurança alimentar que contemplem a
agricultura, a produção e o comércio. A indústria alimentícia,
independentemente do tamanho ou da origem, tem a
responsabilidade fundamental de produzir alimentos seguros ao
consumo.
Algumas dicas para consumir
adoçantes:
- Evite ingerir um excesso de
produtos dietéticos (gelatinas, pudins, refrigerantes).
- Consuma vários tipos de
adoçantes (rodízio), inclusive os que são novos no mercado,
desde que autorizados pela legislação. Se possível,
utilizá-los combinados, já que assim eles possuem maior
doçura, o que permite reduzir a quantidade utilizada.
- Evite usar aspartame em
alimentos quentes, pois, além de haver uma perda da doçura, é
possível que ele seja decomposto em outras substâncias.
- O uso de qualquer adoçante
dietético deve ser proibido às mulheres grávidas e lactantes.
Para crianças obesas, use com moderação.
- Lembre-se de que todo excesso
traz prejuízos à saúde. Assim, adoçantes dietéticos não fogem
à regra e, portanto, devem ser consumidos com moderação.
REFERÊNCIAS:
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S. MOTARJEMI, Y., KÄFERSTEIN, F.K., Food Safety and Public
Healyh. Food Control. 6, 5, 253-259 (1995).
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no campo dos edulcorantes sintéticos. Cadernos de Ciência e
Tecnologia. Brasília, 10, 1/3, 93-117 (1993).
3. BRASIL, Portaria SVS no. 29 Secretaria de
Vigilância Sanitária. Diário Oficial da União de 13 de janeiro
de 1998.
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Vol 1 Métodos Químicos e Físicos para analises de Alimentos.
5. FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE
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8. AGER, D. J.; PANTALEONE, D. P.; HENDENSON,
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11. PORFÍRIO, D.M. Determinação de Metais em
Adoçantes Dietéticos por ICP OES, Dissertação de Mestrado,
Instituto de Química, USP, 2004.
Darilena Monteiro Porfírio
Centro de Ciências Exatas e Naturais - UFPa
Elizabeth de Oliveira
Instituto de Química - USP
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