Alimentos orgânicos são mais saudáveis?
De acordo com a principal certificadora de orgânicos do Brasil, o
Instituto Biodinâmico (IBD), o sucesso desses produtos vem da área
de alimentos. “Nos últimos tempos, o consumidor vem descobrindo
que os alimentos orgânicos fazem bem à sua saúde e são bons para o
meio ambiente”, diz a página do instituto na internet.
No entanto, para a nutricionista Silvia Cozzolino, professora da
Universidade de São Paulo (USP) e membro do Conselho Regional de
Nutricionistas III Região (SP/MS), do ponto de vista nutricional
não há muitas diferenças entre alimentos cultivados de modo
orgânico e convencional. “Tanto que dizer ‘coma só orgânicos que
você estará bem alimentado’, para mim, não é verdade. Você estará
bem alimentado comendo um ou outro”, diz a professora.
A idéia de que alimentos orgânicos são mais saudáveis sustenta-se
principalmente na possibilidade de que os produtos da agricultura
tradicional podem estar contaminados (ou conter resíduos) pelos
defensivos agrícolas, os chamados agrotóxicos. Para o professor
emérito da Universidade Federal de Lavras, Alfredo Scheid Lopes,
“seguindo-se as instruções de uso e, acima de tudo, o tempo de
carência entre a aplicação e a colheita, a possibilidade da
presença de resíduos em alimentos é muito mais exceção do que
regra”.
O gerente geral de toxicologia da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa), Luiz Cláudio Meirelles, explica que todo
produto fitossanitário (destinado ao controle de pragas agrícolas)
registrado tem um limite máximo de resíduos (LMR) aceitáveis para
cada cultura em que pode ser aplicado. Assim, o LMR de um mesmo
defensivo pode ser diferente para a maçã e a laranja, por exemplo.
Além disso, a soma dos limites de todas as culturas em que o
produto tem autorização da Anvisa para ser aplicado não pode
ultrapassar a um outro índice, chamado Ingesta Diária Aceitável
(IDA).
Ainda de acordo com o técnico da Anvisa, os limites são
estabelecidos com base em estudos de longo prazo sobre câncer,
alterações hormonais e embrionárias, entre outros possíveis males.
“Esse é um procedimento adotado internacionalmente, em que você
trabalha com metodologias de investigação de resíduos de alimentos
e com valores de IDA, de modo que, se você ingerisse aquilo
durante sua vida inteira, não haveria problemas à sua saúde”,
explica Meirelles. Ele ressalva, no entanto, que os LMRs “são
valores teóricos porque, muitas vezes, à medida que a ciência
avança, descobre-se que é preciso baixar aquele limite ou mesmo
colocá-lo a níveis praticamente zero”.
O gerente da Anvisa explica que, uma vez que os alimentos
orgânicos não recebem qualquer dose de produtos agrotóxicos, eles
podem ser considerados mais seguros. Contudo, isso não quer dizer
que os produtos convencionais sejam inseguros. “À luz do
conhecimento científico atual, a gente pode afirmar que a
população pode consumi-los sem riscos.”, diz Meirelles.
Em 2001, a Anvisa implantou o PARA - Programa de Análise de
Resíduos de Agrotóxicos (link alternativo para obter cópia do
estudo) O resultado dos exames das cerca de 4 mil amostras
colhidas em supermercados de 12 estados brasileiros, entre 2001 e
2004, mostra que pouco mais da metade delas apresentou resíduos. A
maior parte (71,5%), no entanto, estava dentro dos limites
aceitáveis. Quanto aos outros 28,5%, ou os resíduos estavam acima
desse limite ou o uso da substância encontrada não era autorizado
para a cultura em que foi encontrado.
Sobre o efeito dos resíduos na saúde humana, Meirelles explica ser
difícil avaliar os efeitos dos resíduos de defensivos encontrados
nos alimentos sobre a saúde humana. Segundo explica o gerente da
Anivisa, até hoje não foram monitoradas exposições por um longo
período de tempo e como o ser humano está exposto a múltiplos
fatores. inclusive genéticos, não é possível dizer, por exemplo,
que a causa de um tumor foi uma determinada substância encontrada
no alimento. As pesquisas disponíveis até aqui se referem apenas à
exposição ocupacional, completa.
O risco de contaminação de trabalhadores rurais que aplicam
agrotóxicos é uma das apreensões do professor Paulo Stringheta, da
Universidade Federal de Viçosa. “As pessoas normalmente se
preocupam com quem come e nós nos esquecemos de nos preocupar com
quem produz”, adverte Stringheta.
Equipamento de proteção individual (EPIs) foram desenvolvidos para
evitar que aplicadores sejam contaminados pelos produtos. Mas,
segundo o técnico da Anvisa, não basta usar o EPI. “Isso tem que
vir acompanhado de outras práticas de manejo, no momento da
aplicação”, alerta Meirelles. Entre os cuidados que precisam ser
observados estão o horário, a lavagem diária das vestimentas e a
manutenção dos equipamentos de aplicação.
Escrito pela
jornalista Vivian Chies, da Assessoria de Comunicação do Conselho,
este texto foi publicado originalmente no Informativo CRQ-IV
referente ao bimestre Julho/Agosto de 2006. A mesma edição traz
outras
reportagens sobre a contribuição da química na agricultura.
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