Aspirina: um velho medicamento com novos usos
A aspirina é uma
substância sólida conhecida há mais de 100 anos. Seu nome químico é
ácido acetilsalicílico (AAS) e, provavelmente, é o medicamento mais
conhecido e mais vendido no mundo. Milhões de pessoas já se
utilizaram da aspirina para diminuir dores e baixar a febre.
Acontece que, nos últimos trinta anos, muitas pesquisas foram
realizadas com a aspirina, tendo sido encontrados novos usos para
esta droga centenária.
A história da aspirina começou há cerca de um século, quando o
químico alemão Felix Hoffman pesquisava um medicamento para ser
usado no tratamento da artrite, doença de seu pai. O objetivo dele
era encontrar uma droga para substituir o salicilato de sódio,
medicamento usado naquela época, mas que exigia grandes doses
diárias e provocava irritação e fortes dores estomacais nos
pacientes. Hoffman conseguiu preparar o ácido acetilsalicílico, que
veio depois a ser chamado de aspirina. A nova droga tinha as mesmas
propriedades do salicilato de sódio, conseguia melhorar a qualidade
de vida dos portadores de artrite e gerava menos efeitos colaterais.
Hoffman trabalhava na Bayer da Alemanha e seus superiores não
aceitaram de imediato substituir o salicilato de sódio pela
aspirina. Eles achavam inclusive que o novo medicamento não teria
futuro.
Mas não foi o que aconteceu. No caso da artrite, a aspirina
tornou-se rapidamente o medicamento mais usado no tratamento dessa
doença, que ataca as juntas e o tecido conectivo do corpo humano, e
se apresenta sob mais de 100 diferentes formas. A aspirina é o
medicamento mais barato para combater este mal, inclusive em suas
formas mais comuns: a osteoartrite e a artrite reumatóide.
Nos anos 1970, o cientista britânico John Vane observou que alguns
tipos de ferimento eram acompanhados da liberação em nosso corpo de
substâncias chamadas de prostaglandinas. Ele também percebeu que
dois grupos delas provocavam febre e vermelhidão no local do
ferimento (sinais de inflamação). Vane e colaboradores descobriram
que a aspirina bloqueava a síntese de prostaglandinas, evitando a
formação de plaquetas, que depois se transformavam em coágulos de
sangue no corpo humano. Esses coágulos eram responsáveis pelo
bloqueio do fluxo de sangue para o coração, resultando no ataque
cardíaco. Assim, a aspirina evita a formação de coágulos e,
portanto, pode impedir o infarto do miocárdio. A descoberta foi
sensacional, uma vez que só nos EUA mais de um milhão de pessoas
sofrem ataques cardíacos por ano e quase 50% delas acabam morrendo.
Muitos estudos foram realizados com a aspirina nos últimos 30 anos,
envolvendo grupos de pessoas que pertenciam a três categorias:
pessoas com doenças cardiovasculares ou cerebrovasculares, pessoas
em fase aguda de infarto e pessoas sadias. Nessas pesquisas, o uso
da aspirina se mostrou de enorme importância na prevenção e
tratamento de doenças cardiovasculares. Houve uma sensível
diminuição no número de mortes e de infartos nos grupos considerados
de risco.
Como a aspirina é um anticoagulante, há muitos trabalhos de pesquisa
demonstrando que ela reduz o risco de trombose e de derrame
cerebral. Como se sabe, a forma mais comum deste último ocorre
quando os vasos sangüíneos que irrigam o cérebro com oxigênio e
nutrientes são bloqueados por coágulos.
Alguns trabalhos mais recentes tentam comprovar que a aspirina inibe
o crescimento de vários tipos de tumores: endometrial, esofágico,
gástrico, pulmonar e colorretal. Há também perspectivas do uso de
aspirina para prevenção e tratamento de doenças que atacam o cérebro
como é o caso do mal de Alzheimer e de outras enfermidades
degenerativas.
A FDA (Food and Drug Administration) dos EUA aprovou, em outubro de
1998, novas orientações para o uso da aspirina em pacientes com
problemas reumáticos, cardiovasculares e cerebrovasculares. Ela é
recomendada, em doses adequadas, para tratamento de homens e
mulheres com isquemia cerebral, derrame cerebral, angina, infarto
agudo de miocárdio e doenças reumáticas e vasculares em geral.
É importante observar, no entanto, que a aspirina pode gerar efeitos
colaterais indesejáveis. Muitas pessoas não toleram a droga mesmo em
baixas doses. A aspirina pode provocar dores estomacais, úlceras
gástricas, diarréias, náuseas, sangramentos e hemorragias internas.
Seu uso não é recomendado para quem possui problemas gástricos,
renais ou biliares. Deve-se evitar também o uso indiscriminado, sem
a devida prescrição médica.
Antonio Carlos Massabni
Instituto de Química – Araraquara - UNESP
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